Acre de lutas completa 54 anos de Estado
Entre os anos 1904 e
1963 o Acre viveu como Território Federal com as capitais de cada departamento
– Alto Acre, Alto Purus, Alto Juruá e depois Alto Tarauacá – reportando-se
direto com a União. As elites seringalistas, comerciantes e militantes
políticos tiveram, nesse período, uma batalha diversa para que o território se
tornasse enfim Estado, com sua autonomia.
O espírito da
liberdade pairava nessas terras desde os combates para a vitória, em 1903, da
“Guerra del Acre” (como era chamada na Bolívia a Revolução Acreana). Com a
transformação em Território Federal, imediatamente foi iniciado o Movimento dos
Autonomistas, que por quase 60 anos lutou para que o povo acreano assumisse sua
gestão.
A Revolta dos Cem
Dias, no Juruá, em 1910, inspirou outras insurreições: em 1912 ocorreram a
Revolta de Sena Madureira, movimento enfrentado pelo governo federal com um
bombardeio da Marinha na cidade; e, em 1918, a Revolta de Rio Branco, que
colocava em xeque um conflito entre o Primeiro e o Segundo Distrito. Com a
derrocada da borracha em 1920, o Movimento Autonomista perdeu parte de suas
forças, até o começo do governo de José Guiomard Santos, em 1942.
Com a assinatura da
lei nº 4.070, que elevou o Acre a Estado, em 15 de junho de 1962, um novo
caminho era iniciado: a independência política. Mas os acreanos não chegariam a
essa conquista sem antes muito combate político entre os tantos partidos que
havia. Parte dessa história pode ser estudada com mais profundidade a partir do
trabalho Invenções do Acre: um Olhar Social sobre a História Institucional da
Região Acreana, da historiadora Maria José Bezerra, que ouviu diversos
militantes da época.
“O partido daqui era
a Legião Autonomista, era o mais importante. A chapa popular era o Partido do
Judiciário. Em 1945 Getúlio Vargas criou tanto o PSD quando o PTB. Havia ainda
a UDN”, afirmou em entrevista à historiadora, em 1996, o jornalista Foch
Jardim, que teve seus direitos políticos cassados durante a ditadura militar.
Com esse contexto
partidário, Aníbal Miranda, que foi governador nomeado entre 1960 e 61, deu sua
versão dos fatos que levaram à assinatura da lei, também em entrevista a Maria
José: “Vale dizer que o projeto aprovado não foi o mesmo apresentado pelo
Guiomard. Sofreu modificações. O PTB não queria o projeto. O Acre não tinha
condições de ser Estado”. Aníbal era ativista do PTB e também foi cassado após
1964.
Em Cruzeiro do Sul,
no Juruá, o clima também era tenso entre os que queriam e não queriam a
autonomia do Acre. Comerciantes e a elite seringalista temiam impostos e
dispunham de armas para que o projeto não prosseguisse. Mas havia aqueles que
buscavam uma alternativa. “A causa autonomista cresceu em Cruzeiro do Sul. O
pessoal se conscientizou de que deveria fazer o Estado. Para nós, o ponto
culminante da luta foi 1958, quando colocamos o Guiomard como deputado federal.
Ele lutou e o Acre virou Estado”, afirmou Cláudio Perez Nobre, integrante do
PSD, partido de Guiomard.
Com muitos debates,
discussões e até navalhadas, como relatou Foch Jardim, a política acreana
chegou a um de seus episódios mais importantes. O Acre elevou-se a Estado,
ganhou sua autonomia e pôde escolher seu primeiro governador, José Augusto de
Araújo, um dos que não utilizou a bandeira autonomista em sua campanha.
Dois anos depois das
eleições, a ditadura cerceou toda a liberdade brasileira e fortaleceu as elites
econômicas. Grupos que chegaram ao estado desmatando e expulsando o povo de
suas terras, fazendo nascer aí a próxima etapa da luta acreana. A cultura do
Acre foi se reafirmando com cada batalha, mostrando que tem seu próprio jeito
de fazer política e desenvolver sua economia e sociedade.
Agência Notícias do
Acre
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