Pode não ser o melhor lugar, mas no bar
é onde se houve as mais verdadeiras opiniões e declarações dos homens.
Principalmente se a figura em questão é polêmica, está no meio do fogo cruzado
e para completar é um senador do PT. Isso mesmo. Foi neste ambiente de um bar,
na redação de ac24horas que o senador
Jorge Viana resolveu conceder entrevista aos jornalistas Luciano Tavares e Ray
Melo sobre vários temas da atualidade, inclusive do processo de impeachment da
presidente Dilma Rousseff.
Acompanhado
do assessor Arão Prado, Viana falou, inclusive, do que normalmente não comenta
com jornalistas. Ele jura e morre defendendo que o ex-deputado petista José
Genoino (condenado no mensalão sob acusação de formação de quadrilha) “não é,
nunca foi, e nunca será corrupto”.
Nesta
entrevista, o senador irmão de Sebastião Viana diz ainda que a oposição não
desceu do palanque e que a crise é gerada, em parte, pela conturbação política.
“Há um certo inconformismo da oposição que perdeu a eleição em 2014. A oposição
resolveu não descer do palanque e terminou que a crise afetou todo mundo”, diz.
Aliás, a palavra crise foi a mais citada por Viana.
Porém,
o petista acredita que “a presidente Dilma tá começando a dar volta por cima.
Se ela resolver os problemas das pedaladas também. Todo mundo fazia. Não tem
prejuízo pra União”, completa.
Ele
também considera que no âmbito local, o prefeito de Rio Branco, Marcus Viana, e
o governador Sebastião Viana vivem sob o reflexo do desgaste político do PT e
do momento que o país enfrenta. “Um prefeito igual ao Marcus Alexandre tem
sofrido. Eu falo sempre. O Tião, poxa, enfrentou crise dos haitianos, o Tião
enfrentou a questão do Madeira, gravíssima, com interdição do Acre, o Tião
enfrentou essa coisa do G7,  ele se dedicou. Ainda bem que ele está
no governo. Porque eu não sei que outro governo enfrentaria tanta dificuldade
como o Tião passou.”
Ac24horas
– Será que um dos fatores que contribuiu para esta crise foi o excesso de
populismo do seu partido, o PT, que promoveu uma excessiva desoneração de
impostos, aumentou ao invés de diminuir o número de bolsa isso, bolsa aquilo?
JV: Os que mais
ganharam subsídios são os que menos reconhecem. As desonerações foram de R$114
bilhões,  alguns acho que extremamente necessários pra estimular o
setor produtivo. Outros, ações de lobbys, ora nas medidas provisórias. Todo
mundo comentava dentro Congresso que quando chegava uma medida provisória
desonerando alguns setores da economia pra estimular a manutenção do emprego,
daqui a pouco outros setores, o tais jabutis, apareciam da noite pro dia depois
de reuniões de alguns parlamentares com alguns líderes empresariais. E aí uma
frase muito repetida no Senado esse ano é assim: Jabuti em árvore foi enchente
ou mão de gente. Assim eram os jabutis nas medidas provisórias. Ou é enchente
ou é mão de gente. Como é que vai aparecer um jabuti trepado numa árvore, né.
Eu acho que aí o governo errou a mão nisso, reconhecidamente. A oposição diz
que é por causa das eleições, mas também nós tivemos uma política muito boa no
Brasil, que mal acostumou o Brasil, durante 12 anos geramos 20 milhões de
empregos com carteira assinada com a inflação sob controle. É muito difícil
você sair de um ambiente assim de prosperidade e cair num outro de depressão
econômica. Uma inflação com o dobro do que era e um crescimento econômico
negativo como está sendo agora de 3,5%. É ruim. E eu acho que o melhor jeito é
reconhecer que é uma fase ruim. Nós que já fizemos muito se reconhecemos que
agora o momento vai exigir um certo sacrifício talvez seja melhor o diálogo.
Ac24horas:
Senador, sobre esses programas sociais.  O governo criou, por
exemplo, o Bolsa Família para que ao ponto que a família fosse entrando ela
melhorasse de vida e fosse saindo, mas, no entanto, o número só aumenta. O
senhor não acha que isso é prejudicial. Esse paternalismo gerado pelo Estado?
JV: Eu não sou muito
favorável a doação, ao paternalismo. O Bolsa Família já foi analisado pelas
Nações Unidas, por ONGs, pela imprensa estrangeira. Pessoas que olham sem tá no
meio dos conflitos, no meio dos embates que tem. E foi eleito como um dos mais
importantes programas sociais do mundo. Tem horas que você tem que fazer
realmente alguma coisa objetiva pra quem passa necessidade. Eu acho que é um
ganho incluir pessoas. Pessoas que entraram na classe média. São 40 milhões de
pessoas que estão excluídas. Que não tinham uma televisão, que não tinham uma
máquina de lavar, que não tinham uma geladeira, que não tinham nem luz
elétrica. E o governo do Lula fez isso. Eu acho que se tiver algum ou outro
defeito esse defeito fica diminuído pela inclusão. E foi isso que fez o Brasil
crescer economicamente 7,5% no ano. Empresário que era milionário ficou bilionário.
E se a gente olhar nos últimos 12 anos é difícil achar um brasileiro que diga:
eu piorei de vida. É só fazer uma pergunta: nesses 12 anos a minha melhorou ou
piorou? Eu acho que um número grande, certamente acima dos 80% vai dizer: não,
melhorou a minha vida. Minha casa tá um pouco melhor, minha vida tá um pouco
melhor meu salário tá um pouco melhor. Por isso a dificuldade de as pessoas
aceitarem um ano como esse de 2015. Mas eu acho que os programas sociais são
parte agora da história, vão ser estudados. Eu não vejo como um paternalismo ou
como um favor não. Quando você um sertanejo  no nordeste que enfrente
uma seca há cem anos pra ele não comer calango, pra ele não sair pedindo, pra
ele não sair num pau de arara, ele tem lá um programa chamado Bolsa Família.
Mas com uma prerrogativa: os filhos têm que está na escola, freqüentado a
escola. Eu acho que isso é um mérito do Lula, é um mérito do PT e da própria
presidenta Dilma. Agora, como fazer o pós do Bolsa Família aí desafio tá posto
pra nós do PT e pras oposições que deixaram ter 40 milhões de brasileiros
excluídos do mercado de trabalho, do mercado de consumo. Esses programas do
governo só precisam ser moralizados. Esse programa da pesca é uma vergonha. Tem
cidades no nordeste e até no centro-sul do país que não tem um pescador. E tão
lá dezenas e centenas de pessoas. Tanto é que a Polícia Federal indiciou um
monte de gente. Aqui (Acre) também. Eu acho que os programas sociais precisam
ser moralizados. Mas eles precisam ser mantidos seja com que governo for.
Ac24horas:
O FIES ultrapassou limites, senador?
JV: O FIES é um programa
fabuloso, fantástico, mas aí também ele não tinha contrapartida nenhuma. Ele
atendeu milhões de jovens, mas também deixou mais rico empresários donos de
faculdades. Aí o governo foi fazer a consertação, que é exigir que a faculdade
tenha qualidade e exigir também que o aluno tenha obrigações. O erro foi ter
aberto, entra todo mundo e depois não ter critério. O critério tinha que ser
estabelecido há tempo. É muito importante pra um jovem que ele venha dizer o
seguinte: eu vou pegar o financiamento, vou fazer minha faculdade. Pra mim ter
programas como esse é um transição pro país ficar melhor na frente. Mas quando
o programa é distorcido, como aconteceu com o FIES, ele precisa ser corrigido.
AC24HORAS
– O senhor vê semelhanças com a bolha imobiliária dos EUA?
JV: Esse negócio de bolha
imobiliária e queda da nota do Brasil. Duas agências rebaixaram o Brasil.
Engraçado, essas duas agências. Primeiro, quem são os donos dessas agências.
Elas são empresas de grandes conglomerados econômicos. As duas agências que
rebaixaram a nota do Brasil agora davam nota máxima pras empresas da bolha
imobiliária dos Estados Unidos e dos bancos que quebraram, que geraram aquela
crise de 2008. Da noite pro dia aquela crise que acabou com a economia mundial,
danificou a Europa até hoje. Felizmente aquela não chegou no Brasil. E são
essas mesmas agências. No fundo, com todo respeito, mas há um jogo de interesse
que você não sabe como que explicar. Com todo respeito aos argentinos, mas como
é que o Brasil pode ter uma nota menor do que a Argentina? Como é que o Brasil
em alguns aspectos pode ter nota menor do que a Venezuela? Não dá pra você ter
isso claramente. Os indicadores econômicos do Brasil, hoje, por mais crítico
que seja do nosso governo, a gente tem que reconhecer isso, são ainda melhores
do que o do Fernando Henrique no último ano. A taxa de juros dele tava batendo
quase 30% na crise com o Fernando Henrique. A inflação era muito maior do que
essa agora que tá chegando a 10%. O desemprego era muitas vezes maior. Mas,
como eu falei, nós estamos aí há 12 anos de prosperidade, de crescimento
econômico, aí você dá passo pra trás é muito difícil. Por isso que talvez a
gente esteja sofrendo tanto a impopularidade do governo.
Ac24horas
– Grandes Estados tem pedaladas?
JV- A informação que se
tem é de que é uma prática recorrente para os poderes executivos para fazer
manobras orçamentárias. Fernando Henrique fez, Lula fez, Estados fizeram.
Ac24horas
– O Acre fez, senador? No seu governo houve pedalas?
JV- Não, não. O
Estado do Acre quando a gente assumiu já não tinha o Banacre, já tinham falido.
Normalmente quem tem banco. No caso da União eu acho que não teve prejuízo, não
teve dolo, não houve prejuízo. A presidenta, agora, baixou duas medidas
provisórias fazendo os ajustes. Se ela consegue virar essa página e a gente
consegue ter uma melhora principalmente a partir do segundo trimestre (de2016),
eu acho que se a presidenta consegue voltar à normalidade seria uma boa para
todos nós. Mas você tem a Lava Jato em aberto, você tem a crise do Eduardo
Cunha. Pô, é o terceiro na linha de sucessão do país. Ele pede uma audiência
com o presidente do Supremo e presidente do Supremo diz: não, pra receber o
Eduardo Cunha só com a imprensa do lado. No fundo a mensagem foi essa. Gente,
isso é muito sério. É o terceiro na sucessão. Quer dizer, se a presidenta Dilma
não tiver e o vice-presidente Michel Temer não tiver quem assume é o Eduardo
Cunha. E o presidente do outro poder diz que esse aí eu só recebo com a
presença da imprensa. E fez isso com o áudio aberto pra imprensa, que a gente
só tinha visto com o Itamar com o ACM lá trás, né. Tem situações que beiram a crise
institucional.
Ac24horas:
Como é que o senhor que sempre pregou o combate à corrupção ficou ao ver três
tesoureiros do seu partido presos denunciados por corrupção?
JV: Isso é muito é
ruim. É triste, é lamentável. Eu  queria poder separar assim: os
proprineiros, funcionários de empresas públicas, que ocuparam cargos, que botam
não sei quantos milhões na conta na Suíça, comprando iate, comprando aquilo.
Nós estamos governando o Acre há muito tempo. Se nós formos perguntar qual foi
o secretário que ficou milionário aqui, se tivesse ficado a gente já sabia. A
gente tinha visto, como a gente já viu em outros governos. Isso é uma coisa
perversa. Você aquele Barusco, o cara tá lá, fez uma foto, fez delação, tirou
uma foto do lado do iate fumando charuto, lá em Angra dos Reis na boa e diz,
não, eu tô devolvendo R$ 250 milhões, um Barusco virou até moeda. Isso é uma
afronta. Eu to separando isso. Agora veja bem, eu acho que alguns companheiros
nossos do PT por esse sistema falido e irresponsável que o Brasil tem de
financiamento de campanha, de financiar partido político. Eu acho que isso é
que faliu.
Eu
disse outro dia um ministro, que eu não vou citar o nome. Eu disse: ministro
vocês estão investigando as contas da presidenta Dilma, tá certo, investiguem,
mas troque o tesoureiro da Dilma, que foi o Edinho, dessa vez, pelo tesoureiro
do Aécio. Troque. Pegue a mesma conta. O senhor vai encontrar os mesmos
problemas. É um modelo falido. O cara faz convenção, cinco dias depois ele tem
quer dinheiro na conta arrecadado. Aí quando o dinheiro vem do PT ele é
dinheiro sujo de corrupção, mas quando foi pro PSDB ele é dinheiro limpo. Não
tem como separar isso, gente. O que eu acho que as empresas estavam fazendo há
muitos anos no Brasil é assim: vai pegar uma obra grande separa 1%, 2% , que
não é pouco, é muito, pra doar pra partido, pra ajudar em campanha. Esse é um
esquema. Eu acho que isso funcionava e isso é perverso. Tem que ser combatido e
a Lava Jato tá tentando pôr fim a isso. Acho que esse acordo de leniência,
também, tem que pôr fim a isso.
Ac24horas:
Mas por que botar gente, também, de outros partidos?
JV: A Lava Jato eu
espero que ela ainda alcance os outros. Veja uma coisa grave agora. Quando eu
falava sobre o mensalão do PT, que atingia o Zé Dirceu, o Genoino, o Delúbio…
Poxa, um Ginoino? Quem conhece a história do Genoino… O Genoino não foi, não é,
e não será nunca corrupto. Genoino mora numa casa, conheço a casa dele, em São
Paulo, a vida inteira ali. E lá em Brasília, ele ficava num apartamento no
Torre Palace. Absolutamente modesto. Mas foi presidente do PT, assinou alguns
contratos e foi preso. Marco Valério, mesmo esquema de Minas. Agora em 2005. Em
98 começou com o PSDB. O presidente do PSDB, ex-presidente do PSDB, ninguém
fala muito nisso, Eduardo Azeredo, e eu não to crucificando. Ex-presidente
nacional do PSDB há 20 anos. Ex-presidente do PSDB, ex-governador de Minas,
ex-senador, ex-deputado federal, renunciou, do PSDB, só que isso não é notícia
na grande imprensa nacional. E quando o máximo ainda dizem assim: foi o
mensalão mineiro. Foi o mensalão mineiro não. Era o mensalão do PSDB, que deu origem
com o mesmo Marco Valério, que o PT foi copiar e se deu muito. Mensalão do
Democratas, o antigo PFL. Tem senador do PSDB que tá acusado em três processos
disso. Foi esse modelo de financiamento que derrotou a política.
Ac24horas
– Toda essa corrupção tem a ver também com essa coisa de coalizão de partidos,
que para governar tem que fazer alianças com outros partidos que tem filosofias
totalmente diferentes?
JV: O Renato Janine
(filósofo – ex-ministro da Educação de Dilma) fez um artigo muito interessante
na Folha de São Paulo, que ele fala: espero que o Temer não seja o Café Filho
(vice de Getúlio Vargas). Ele falou de dois presidentes, o Itamar, que sucedeu
o Collor, que nunca fez um movimento pra tirar o Collor, e o Café Filho, que
era vice do Getúlio Vargas, que traiu o presidente foi se juntar, acumular com
a oposição pra derrubar o Getúlio Vargas. E ele diz lá que se botar o Temer o
ambiente político piora muito. Eu ouso dizer, eu converso isso com o Aécio, com
companheiros, com colegas lá de outros partidos que num ambiente político que
nós estamos tá impossível montar um governo. Esse governo de coalizão faliu,
gente.
Ac24horas:
Se a presidente assumisse parte de coisas que ela deveria ter feito e não fez,
que prometeu na campanha e não cumpriu, amenizaria a crise ou os partidos não
querem amenizar a crise?
JV: Eu acho que a
presidenta poderia, ela que foi reeleita há um ano atrás. Em doze meses nós
derrubamos um capital político construído em 12 anos pelo Lula. Foi consumido.
E eu acho que aí tem muitos erros nossos.
Ac24horas:
E o PMDB pulou de dois para sete ministérios rapidamente…
JV: Nós pioramos o governo
pra poder ter uma base de apoio. Pioramos. Todo mundo avalia que o governo hoje
não é tão bom como já foi. Eu to falando pela sua composição. Com todo respeito
aos ministros. A presidenta poderia ter pacificado as coisas. Passou a eleição,
a oposição não desce do palanque, a gente vai lá atrás. Podia ter feito
conversas com lideranças do próprio PSDB pra pacificar o país.
Ac24horas:
Foi sugerido isso a  ela?
JV: Foi sugerido. O
próprio presidente Lula chegou a sugerir a formação de um comitê
suprapartidário de pessoas que pudessem ter desde um ministro Jobim a outras
figuras pra ajudar nesse diálogo. Pra tentar sair da eleição. Porque a eleição
foi muito tencionada. A própria Marina, nossa companheira aqui do Acre, teve
quase presidente. A morte do Eduardo Campos. A eleição foi uma eleição muito
difícil. Teve um período nela que o Eduardo Campos era a esperança aí morreu.
Aí a Marina virou a presidente da República. Aí a Dilma duas vezes foi quase
presidente, foi pra lona e depois subiu de novo. O Aécio também duas vezes tava
quase presidente. Uma eleição que deixou uma herança maldita, da falta de
diálogo. E aí eu acho que quem ganha tinha que fazer o gesto. Porque já ganhou.
Ac24horas:
Toda defesa é importante, mas os excessos são prejudiciais. O que o Sibá tem
feito não tem sido prejudicial? Essas declarações meio malucas falando sobre os
Estados Unidos. Isso não é um problema nosso?
JV: O Marcus poderia ter
uma avaliação igual eu tinha. Teve momentos que eu tive aprovação de mais de
80% de ótimo e bom, o Lula também teve. Tanto ele como o Tião poderiam estar
com avaliações que poderiam ser melhores se o momento que o país está vivendo
fosse o melhor. Os dois são um pouco vítima do momento político que o país tá
vivendo. Se os dois estivessem num bom momento, se o nosso governo tivesse
melhor avaliado, seria muito pior pra oposição.
Tem
uma ação de intolerância na sociedade. Você vê o que fizeram com o Chico
Buarque. Isso não tem sentido nenhum. Depois o cara vai pedir desculpa. Gente,
tem que parar essa coisa de uma pessoa não poder pensar diferente. Eu vivi
momentos aqui no Acre diferentes. Eu acho que eles não podem voltar. Eu acho
que a gente tem que ter um ambiente pelo menos de conversação, de se
cumprimentar quem oposição e quem é governo. O Sibá, eu falei isso pra ele. Eu
disse a ele que não tinha momento pior pra você ser líder como esse agora. Mas
também ele ajudou muito, ele o Tião na época do Lula. Mas eu acho que ele tá
terminando o ano até melhor do quê o que eu pensava. Foi uma bancada que saiu
muita gente. Saíram prefeitos do PT, saíram deputados da bancada do PT. A gente
tá passando por uma espécie de provação no PT onde eu espero que a gente saia
melhor. Porque tem muita gente que era simpatizante da gente que tá afastado.
Tem muita gente que é militante e que tá se dedicando esperando que a coisa
melhore. Então a nossa responsabilidade no PT, eu que sempre fui filiado ao PT,
é muito grande.
Ac24horas:
O senhor falou de coalizão de partidos, de governos que criam cargo para
acomodar aliados. O senhor não acha que o seu irmão, governador do Acre erra ao
criar cargos num momento de crise para colocar pessoas dos partidos. O senhor
não acha que isso é errado?
JV: O Tião sofre do mesmo problema do governo federal que é a
dificuldade de montar uma base de apoio. O problema todo é que você tá no
governo aí você tem pessoas que ganharam o mandato. São de partidos. E os partidos
querem tem uma parcela de participação no governo. Isso é parte do jogo, não
importa que esteja no governo. O que você tá pondo é um outro aspecto, que é
aumentar o tamanho do governo para recepcionar os aliados. Eu
acho  que isso ano. Inclusive nessa coisa de cargo parece que tem uma
coisa mal explicada. O Tião deixou claro que não criou mil cargos como se tá
colocando, ao contrário, ele tava fazendo um ajuste da estrutura até com
redução de cargo. O Tião adotou uma série de medidas importantes. Chamou todo e
pediu para reduzir gastos. O problema é que a crise é maior do que se pensava,
inclusive pra quem tá no governo. Mas eu acho que a nossa sorte é ter um Marcus
Alexandre, um Tião. Eu acho que a gente tá vivendo um processo de adaptação.
Ac24horas:
O senhor votou pela liberação do senador Delcídio do Amaral por ele ser do seu
partido?
JV: Não, eu votei
como vice-presidente do Senado. A Constituição pode até ser mudada, mas
enquanto ela não for mudada ela tem que ser respeitada. A Constituição não permite
aquilo que foi feito naquele dia. O próprio Supremo sabia disso. Quando o
doutor Rodrigo Janot pediu a prisão do Delcídio ele botou: caso seja negada a
prisão que ponha às cautelares porque ele sabia que senador, aí está na
Constituição, só pode ser preso se for em flagrante. Lamentavelmente tá lá.
Puseram na Constituição então que fique.  Naquela manhã, o Delcídio
teria 90% dos votos, do PSDB, de todo mundo, mas vazaram o áudio da motivação.
Com aquele áudio rodando desde cedo é quando nós fomos votar já foi à noite… Aí
entra peso da opinião pública que eu respeito. Mas eu votei como
vice-presidente do Senado. Não voltei pra soltar o Delcídio. Sou claro em
afirmar. Ali era cumprir a Constituição em relação a uma prisão sem tá
caracterizado o flagrante. Soltava 24 horas depois, entrava, abria o processo
de cassação do mandato dele. Porque se eu fosse do Conselho de Ética, no
Conselho de Ética não tem o que discutir. Provavelmente ele vai perder o
mandato. Não tem o que discutir. Não tem nada a ver de soltar, de ser do PT. Se
fosse qualquer um outro senador eu taria ali. Aí me perguntaram se eu não tinha
medo da opinião pública.  Eu dependo da opinião pública. Mas eu acho
que a opinião pública não é pra ser temida. Ela é pra ser respeitada. Eu acho
que a pessoas preferem as pessoas que tenham suas posições do que alguns que
tentam esconder suas posições. Não é o meu caso. Ali se tivesse só dois votos,
um seria o meu.
Ac24horas:
Senador, qual a diferença de um corrupto do DEM, do PMDB, para um corrupto do PT
JV: Eu acho que não tem
diferença nenhuma sinceramente. Mas nós do PT temos um compromisso, não estou
dizendo que os outros não tenham. Que o Democratas não tenha, que o PSDB não
tem. Mas o PT veio pra mudar o Brasil. Eu acho que a gente até conseguiu. A
gente conseguiu implantar políticas que eu me orgulho muito. Que vai desde
iluminar a casa de quem vivia, são milhões de pessoas, gerar empregos, 20
milhões de empregos, estender as mãos para os mais jovens. O Brasil era uma
economia de U$$ 500 bilhões o PIB quando o PT assumiu, agora é U$$ 2,3
trilhões. Agora tem um problema. O PT nasceu pra fazer essa inversão de pauta,
pra ajudar os que mais precisam, mas aí só tem um jeito: teve que entrar no
jogo político, no jogo das alianças partidárias. E eu acho que nesse aspecto
nós vamos ter que repensar. É melhor a gente refletir sobre isso sobre como que
a gente pode fazer uma campanha. Como é que a gente pode fazer uma campanha tão
cara quanto a do PSDB. Pra fazer campanha como a do PSDB a gente tem que ir atrás
dos mesmos doadores do PSDB. E eu acho que foi isso que o PT ficou muito
parecido com os outros partidos nesse aspecto. Não se trata de ser pior pra
nós. Corrupção é ruim pra todo mundo. Eu acho que também a política no Brasil
tá meio satanizada. Eu acho que isso não é bom. As mudanças que nós fizemos
aqui no Acre foram através da política. Através do nosso trabalho na
prefeitura, dos nossos governos, dos nossos mandatos.
Ac24horas:
O senhor já pensou em deixa o PT alguma vez?
JV: Não, aí não. Nunca
passou nem de longe sair do PT. Eu acho que os problemas que o enfrenta serão
superados.
Ac24horas:
Nem ir pra Rede como comentam?
JV: Eu procuro manter uma
boa relação com todos. Lá no Senado, o Renan e os outros colegas falam sempre e
quando tem uma confusão eu desço ali e converso pra chegar num acordo. O
momento tá precisando de a gente ter alguém quem CONVERSE com as oposições.
Ac24horas:
O senhor se acha um petista tucano?
JV: Eu tive com muita
honra o governador Cadaxo como meu vice. E ele era do PSDB. Isso termina que
mandou uma mensagem pro Brasil. Eu tive com a Regina também como minha vice na prefeitura,
que também foi do PSDB. Já passou essa fase, mas teve um período que a ação no
PSDB tava mais próxima da do PT e de setores do PT mais próximo do PSDB do que
de outras forças políticas. Aí, lamentavelmente, o PSDB foi pra uma posição
muito radicalizada de enfrentamento com o PT. Nós também já tínhamos muito
radicalizada. O meu jeito de fazer política é tendo posição sim. Mas eu não vou
tá caminhando pros extremos de jeito nenhum.
Ac24horas:
O senhor já criticou muito essa questão da doação privada de campanha, mas já
recebeu doações, ainda que registradas. O senhor não acha isso uma contradição?
JV: Não, veja bem. As
regras do jogo. Mas acho que boa parte desse problema que a gente enfrenta hoje
é por conta dessa relação promíscua que tem de empresa com agente público. Com
político com mandato. Tem gente na Câmara que tá lá há 30 anos, há 40 anos na
Câmara com mandato. E aí sempre são os mesmos. Ou seja, que tem o melhor
esquema de financiamento vai se mantendo. Eu acho que o Brasil deveria experimentar
um período sem o financiamento empresarial.
Ac24horas:
O PT sobrevive sem financiamento?
JV: Eu acho que aí vai
sobreviver o partido que estabelecer um diálogo com seus militantes. Fazer
cota, vamos fazer… Eu acho que seria importante. Vê o presidente Obama
arrecadou U$$ 800 milhões com doações abaixo de U$$ 200. Eu toparia. Tá
insuportável isso. Pra mim deveria ter teto gasto por candidato e tirar o
financiamento empresarial. Aí as pessoas dialogarem. Cada um colocando sua
carinha no vídeo botando suas propostas. Aí os políticos que gostam de mentir,
que gostam de enganar teriam mais dificuldade do que aqueles que têm bons
propósitos. Agora tem uma coisa fundamental, esse monte de partido não tem
condição. Eu falei ainda agora esse negócio do Partido da Mulher, né. Não tem
condição. O cara cria o Partido da Mulher entra 25 homens mais um senador. Não
tem condição. Isso aí é piada de salão, gente. Essa é a desmoralização que a
gente tá vivendo. Porque no Brasil se você for parlamentar pra não perder o mandato
só pode ir para partido novo. A gente tá vivendo uma autofagia.
Ac24horas:
O senhor acredita na inocência de todas as pessoas do seu partido que foram
citadas e acusadas nesse processo de corrupção ou eles caíram numa armadilha
como o senhor mesmo falou?
JV: Não se trata de
acreditar na inocência ou não, mas eu conheço alguns companheiros que tem
sofrido. Eu tenho que acreditar na Justiça. A única ruim que eu acho é essa
história de prender primeiro pra depois denunciar, investigar. Isso não é bom porque
depois você começa a prender também quem não era pra tá preso. Nós sempre
tivemos o Joaquim Barbosa como o grande algoz do PT por causa do mensalão e
tal, mas ele não prendeu ninguém antes da hora. Ele era relator de um processo
do mensalão, investigou, não fez devassa em nada, fez uma denúncia, botou os
advogados pra defender, fez a acusação, fez o julgamento, houve a condenação e
depois as pessoas foram presas. Eu acho que ali ficou a pedagogia correta da
Justiça. Eu acho muito perigoso. Não que esteja contestando o que esteja sendo
feito. Acho que todos nós temos que apoiar o trabalho do juiz Moro, da Lava
Jato, do doutor Rodrigo Janot. O Brasil estava precisando também desse choque
da relação de empresas com governo. De empresas com empresas. Isso vai ficar
melhor graças a Lava Jato. A única coisa que eu acho complexa é você prender
primeiro e depois oferecer a denúncia, depois investigar. Eu acho isso muito
ruim. Eu acredito nas instituições, na Justiça. Eu acho que tem gente culpada e
tem gente inocente. Por exemplo, o próprio Tião. O Tião não tinha nada a ver
com isso. E certamente é uma questão de tempo o nome dele não vai tá nisso
porque não tem razão nenhuma de tá.
Ac24horas:
O Gladson tem?
JV: O PP ainda não
começou. Eu não posso falar. O processo em cima do PP ainda não começou. Tem 30
parlamentares do PP denunciados na Lava Jato. Do PMDB começou a vir. Do PT já
veio. Eu não tô aqui fazendo qualquer juízo do meu colega senador Gladson, do
Petecão, seja de quem for. Aliás, eu procuro ter a melhor convivência. Agora,
os processos do PP ainda estão por vir.
Análise
do mandato
O
senador também fez uma avaliação de sua atuação individual com senador e
ocupante do cargo de vice-presidente do Senado. Ele considera que apesar de
2015 ter sido um ano complicado na esfera política foi possível colaborar por
meio de seu mandato participando de importantes debates.
“Pra
mim foi um ano muito complicado. Eu também não tava mais acostumado com isso.
Porque quando eu assumi a prefeitura eu peguei uma situação que eu não tinha um
parlamentar pra me ajudar. Nem deputado nem senador nem nada. E a cidade tava
completamente acaba. Então foi o cuidar, plantar flores, um gesto de carinho,
de amor, preparar a prefeitura pra frente. Eu fiz meu nome aí. Agora, encarar um
ano como esse com crise política é terrível. Boa parte do que a gente tem de
piora nos indicadores econômicos é em decorrência da crise política. Ela
termina que dá uma insegurança para o setor produtivo e na incerteza ninguém
investe, ninguém aposta na economia e todo mundo começa a perder.”
“Eu
procurei fazer duas coisas. Primeiro trabalhar como vice-presidente do Senado e
dar minha contribuição lá. Eu acho que deu pra fazer. A segunda tentar
trabalhar temas que eu acho que são importantes para  o país. Nós
fizemos desse ano o ano da tecnologia e inovação. Nós mudamos a Constituição em
fevereiro, eu fui relator. Aliás, nisso, o deputado Sibá cumpriu um papel muito
importante. Ele é muito ligado a esse setor, e toda comunidade científica do
Brasil teve contato com a gente.  Realmente nós estamos tirando o
Brasil dos anos 70 e estamos trazendo o Brasil para século 21 nesse aspecto. E
último ato nosso foi a lei da tecnologia e inovação. Outra lei que eu acho de
grande importância para a Amazônia é a lei de acesso à biodiversidade.”
“Eu
também entrei forte nessa questão do direito do consumidor trabalhando contra
esse absurdo dos apagões aqui no Acre. E não é só para baixar o preço da
energia. Eu continuo achando que o preço da nossa energia é um escândalo. Mas
aí você tá com todos os reservatórios secos, você tá com usina ligada a diesel
no Brasil, mas nós temos que ficar vigilantes, fazendo audiência cobrando.
Outra coisa é preço de combustível, outro absurdo. Já tem previsão de aumento.
Como pode tá aumentando se o preço do petróleo era U$$ 120 o barril e agora tá
em U$$ 36 e você ter sem parar o aumento da gasolina. Tem cobrar a qualidade
dos serviços da telefonia, de internet. E uma outra questão abusiva demais, que
eu acho que tem surtido efeito sim, é a questão das passagens aéreas. O Acre
não tinha promoção, agora tá começando a ter. A gente conseguiu aumentar”,
completou.
Fonte: Luciano Tavares e Ray Melo AC 24 Horas
 







 
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