SÃO PAULO (Reuters) - Após anos de relativa bonança,
2016 deverá ser de preocupação para produtores de grãos de Mato Grosso, principal Estado agrícola do país. Em praticamente todos os aspectos da
atividade, do clima ao câmbio, projetou o novo presidente da associação que
representa os agricultores.
"Vamos ter um ano de muitos desafios", disse
à Reuters o produtor Endrigo Dalcin, em
Cuiabá, a presidência da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato
Grosso (Aprosoja), uma das entidades mais atuantes do agronegócio brasileiro.
No curto prazo, uma das principais preocupações ainda
é a irregularidade das chuvas, que prejudicou o início do plantio de soja da
temporada 2015/16.
"Estamos passando por processo de clima
complicado. El Niño está muito forte aqui... Tivemos um índice de replantio
relativamente alto", afirmou Dalcin, referindo-se à necessidade de semear
novamente lavouras de soja que receberam poucas chuvas.
Em função disso, segundo ele, algumas áreas estão
sendo semeadas, atipicamente, ainda neste mês de dezembro, o que pode afetar a
janela climática e as produtividades na colheita, no ano que vem.
Outro efeito da largada turbulenta na temporada de
soja é o provável atraso também no plantio da segunda safra de milho, com
eventuais perdas de produtividade. Há também agricultores que estão desistindo
de plantar a chamada "safrinha de milho". Contudo, o executivo evitou
fazer previsões sobre a extensão da área afetada.
"Vamos ter um problema de renda do produtor nessa
safra. Existem lavouras boas e lavouras muito ruins", projetou Dalcin.
CÂMBIO E CUSTOS
Já estão distantes, na memória dos produtores rurais,
os preços recordes da soja registrados em 2012, de quase 18 dólares por bushel,
em meio a uma quebra de safra nos EUA.
De lá para cá, os preços caíram gradualmente, tocando
em novembro o menor patamar desde 2009, abaixo de 9 dólares por bushel.
Em 2015, o que salvou a rentabilidade dos produtores
foi a alta gradual do dólar ante o real, que permitiu a compra de insumos com
cotações mais baixas do que as praticadas na venda antecipada dos grãos.
Para 2016, no entanto, há um forte temor dos
produtores de que a aquisição de itens essenciais como fertilizantes e
defensivos --majoritariamente importados-- tenham que ser feitos com o dólar em
patamares elevados.
"É um alerta grande para a safra 2016/17. Se o
dólar permanecer alto (no momento da venda dos grãos), alguns produtores podem
se salvar no custo. Mas imagina se o dólar cair a 3 reais, por alguma melhoria
de confiança no governo? É o pior dos mundos. Com os preços em Chicago baixos e
um dólar em queda, o setor entra em colapso", afirmou o novo presidente da
Aprosoja.
PROBLEMA ANTIGO
Dalcin chegou ao leste de Mato Grosso 30 anos atrás,
aos 11 anos de idade, acompanhando os pais, agricultores.
Em três décadas, muita coisa mudou na região de Nova
Xavantina, onde cultiva as terras da família, mas um problema antigo permanece:
os custos de logística de escoamento continuam roubando uma parte significativa
da margem de lucro dos produtores.
Em tempos de custos de produção elevados, a situação
torna-se ainda mais crítica, disse Dalcin.
"A logística continua sendo nosso principal
problema. Mato Grosso está no centro do país, longe para todos os lados",
disse.
Segundo ele, as rotas de escoamento do leste de Mato
Grosso, que poderia aproveitar melhor o novo polo exportador dos terminais
portuárias de São Luís (MA), ainda são prejudicadas pelas condições ruins da
BR-158.
Para os produtores do médio-norte de Mato Grosso, o transporte
para os terminais do eixo dos rios Tapajós e Amazonas ainda é dificultado por
dezenas de quilômetros inconclusos da BR-163, no interior do Pará.
"O escoamento pelo norte começou a funcionar, mas
ainda num volume pequeno, comparado com o que desce para Vitória, Santos e
Paranaguá. A saída pelo norte precisa ser
fortalecida."
Fonte: Reuters
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