Ele tem cinco vezes mais propriedades antibióticas, além de
características diferenciadas que são apreciadas também pela indústria
farmacêutica e alta gastronomia. Além disso, se for produzido na Amazônia, tem
textura, sabor e aroma únicos. O mel das abelhas sem ferrão é uma das
apostas dos produtores acreanos e do governo do Estado como alternativa de
renda para quem mora na floresta.
A meliponicultura – criação racional de abelhas sem
ferrão – não faz pressão sobre a floresta, não exige desmatamento, ao
contrário, precisa da mata preservada, não demanda despesas com manejo e tem
mercado garantido, cada vez mais promissor, aliás. É nesse filão que o governo,
através da Secretaria de Pequenos Negócios (SEPN), tem investido.
O governador Tião Viana decidiu investir na meliponicultura e já
garantiu recursos para a área. Além de recursos próprios e de um convênio com o
Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES) de R$ 480 mil, o Ministério do
Desenvolvimento Social aprovou projeto acreano de R$ 1,1 milhão que vai
garantir a distribuição de 14 mil caixas – as “colmeias” que as abelhas usam
para se reproduzir. As caixas são produzidas pelos marceneiros acreanos,
aquecendo também este setor.
“O Acre se prepara para um grande
debate sobre economia verde com essa atividade ambientalmente correta, que
inclui socialmente as pessoas e de fácil processo. É uma renda extra na propriedade,
que a esposa pode cuidar enquanto o marido toma conta de outras atividades. O
produto é escasso no mercado, mas, ao mesmo tempo, tem caído nas graças da alta
gastronomia, da indústria de cosmético, da farmacêutica. Ou seja, a demanda
está crescendo demais, o produto é muito valorizado e não é encontrado em
escala. O Acre entra na meliponicultura aproveitando este momento.
O responsável técnico pelo programa de meliponicultura no Acre,
Engelberto Flach, explica que a meta deste ano é treinar 120 produtores em cada
município, atingindo 800 produtores somente na região do Juruá,
que demonstra maior vocação para a cultura. Ele explica que ainda não se tem
dados mais concretos, mas estima-se que cada produtor com dez caixas terá uma
renda anual entre R$ 2,5 e R$ 4 mil, em valores de hoje. Cada caixa, dependendo
da espécie, pode produzir entre três e dez quilos de mel por ano. As técnicas
adequadas de manejo e o clima também influenciam na produção.
Engilberto é um produtor que há anos lutou sozinho cobrando ações mais
pontuais do governo para a meliponicultura. O esforço foi recompensado e, de
produtor, foi recrutado para ajudar a coordenar o programa de criação de
abelhas sem ferrão no Acre. Hoje o conhecimento dele, adquirido na prática e no
que aprendeu com os avós e o pais em Santa Catarina, tem ajudado centenas de
produtores que apostam no negócio no Acre.
“Isso aqui é a minha poupança”
O produtor Tiago Costa Alencar mora há 41 anos na Comunidade
Pentecostes, em Cruzeiro do Sul. Ex-seringueiro, viva exclusivamente da
produção de farinha de mandioca até que, em setembro, teve conhecimento da
meliponicultura. A atividade, embora nova, chamou a atenção do cruzeirense, que
logo se encantou não só com a criação fácil e a possibilidade de lucro, mas com
a organização, disciplina e todas as lições que as abelhas ensinam.
“Eu fiquei fascinado. Comecei com duas caixas e já construí mais dez,
além das seis colmeias que tenho pra transferir dos troncos das árvores que
capturei na floresta para as caixinhas. Isso aqui é a minha poupança, sei que
no futuro vou viver só das abelhas”, disse.
A esposa de Tiago, Maria Zilda, brinca que agora ele passa mais tempo
com as abelhas que com ela, mas não tem ciúmes, ao contrário, nesta fase
inicial da produção, quando as abelhas ainda precisam ser capturadas na mata
até que possam se multiplicar em cativeiro, ela não hesita em entrar na
floresta em busca das abelhas.
“Eu ajudo mesmo, no que for preciso. Também fiz o curso que a secretaria
de Pequenos Negócios deu e sei mexer com elas também”, disse.
Mercado garantido
Além de custar bem mais caro, há um mercado garantido para o mel
das abelhas sem ferrão não só no Brasil, mas na Europa. França e Itália já
fizeram contato com o governo do Estado interessados em comprar o produto e
estão aguardando que a produção ganhe escala e chegue ao padrão exigido pelo
Ministério da Agricultura.
“O mel das Apis [abelhas com ferrão] já é produzido em vários estados e
teria uma concorrência bem maior se fossemos entrar neste caminho. Já a abelha
sem ferrão encontra um mercado aberto e poucos produtores. Além disso, o mel
produzido na Amazônia se diferencia. Ou seja, a única preocupação do produtor é
produzir, mercado tem”, explica Flach.
Fonte: http://www.agencia.ac.gov.br
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